quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Um Papo com WAGNER TISO


Mineiro de Três Pontas, pouco mais de 60 bem vividos anos, totalmente dedicados à Música. WAGNER TISO é um dos mais completos e importantes melodistas e arranjadores da história da Música Popular do Brasil. Eternamente associado a Milton Nascimento, faz parte do Clube da Esquina, confraria de genias criadores que revolucionou a estética melódica a partir de meados dos anos 60.

Completando quatro décadas como arranjador, tem lançada em sua homenagem a caixa de CDs Da Sanfona à Sinfônica: Wagner TIso, 40 Anos de Arranjos (Trem Mineiro/Universal), com 59 de seus melhores trabalhos nessa área em gravações de, entre outros, Elis Regina, Simone, Eugènia Melo e Castro, Fagner, Nana Caymmi, João Bosco, Luiz Gonzaga, The Manhattan Transfer, Caetano Veloso, Gonzaguinha e, claro, Milton Nascimento.

Conversei com ele na quarta-feira, 28 de novembro. Um papo agradabilíssimo, apesar de ter sido por telefone. Ele no Rio, eu em São Paulo. Reflexões, informações, certezas aqui reveladas:


TONINHO SPESSOTO - Como surgiu a idéia dessa caixa de CDs?
WAGNER TISO - Minha mulher, Giselle Goldoni Tiso, produtora cultural, armou tudo, desde a concepção à seleção de repertório, esta com Claudio Olivotto. Ela, inclusive, dividiu o material em CDs temáticos. Fiquei muito feliz com o resultado, acho que a amostragem é ampla e interessante.

Toninho - Por quê 59 arranjos ao invés de um número, digamos, redondo?
Wagner - Seriam 60, mas tivemos problemas na liberação de um fonograma de Fagner. A família do parceiro criou algumas dificuldades e acabamos optando por fechar em 59 mesmo. E olhe que tenho mais de mil arranjos gravados...

Toninho - Há gravações inéditas no repertório, não?
Wagner - Exato, são os registros com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, que regi em espetáculos tendo Ivan Lins e João Bosco como solistas. Esse material ainda não teve distribuição comercial.

Toninho - Todos os fonogramas foram remasterizados para a caixa. Em alguns há diferenças sensíveis. Isso foi proposital?
Wagner - Sim, pois na remasterização é possível corrigir eventuais distorções, melhorar o resultado sonoro mantendo-se a integridade do material gravado. Em alguns casos, por exemplo, destacamos mais certos instrumentos que estavam praticamente escondidos. Isso deu maior brilho aos registros.

Toninho - Entre todos os seus arranjos, há um favorito?
Wagner - Aí caímos naquela velha máxima de que 'todos os filhos são iguais', mas há alguns que me agradam muito, entre eles o de Caicó (Cantigas), tema de Heitor Villa-Lobos adaptado pela cantora Teca Calazans, gravado pelo Bituca (Milton Nascimento) no álbum Sentinela, de 1980. É a primeira faixa do primeiro CD da caixa.


Toninho - Houve algum complicado do ponto de vista de construção, de criação?
Wagner - Vários, mas creio que o mais complicado foi o de Para Lennon e McCartney, de Lô e Márcio Borges e Fernando Brant, na gravação da Elis Regina do disco póstumo Luz das Estrelas, de 1984. A voz dela estava numa fita cassete gravada ao vivo em 1976. Tivemos que achar o tempo, o beat correto para manter a atmosfera da interpretação. E tivemos, claro, que captar, na medida do possível, a emoção da Elis. Foi um desafio tanto técnico quanto emocional. (faixa 3 do terceiro CD da caixa)

Toninho - Você já criou arranjos tanto para pequenos grupos quanto grandes orquestras. Qual a sua preferência?
Wagner - Olha, gosto de desafios, sejam eles quais forem. Sou eclético, não discrimino essa ou aquela possibilidade harmônica e melódica. Procuro fazer de tudo, embora tenha predileção por arranjos para grandes orquestras.

Toninho - Os trabalhos com artistas internacionais também são desafiadores?
Wagner - Sim, e como! Afinal, temos que lidar com outras culturas, outras origens musicais. São tarefas desafiadoras e, como disse, adoro desafios. Já trabalhei com Manhattan Transfer, Mercedes Sosa, Salif Keita, Wayne Shorter, Eugénia Melo e Castro, Jon Lucien... Cada um com suas peculiaridades, histórias concepções musicais.

Toninho - Falou-se, há pouco mais de dois anos, numa possível volta do Som Imaginário, grupo do qual você foi um dos fundadores e que teve na formação craques como Zé Rodrix, Tavito e Robertinho Silva, para um CD e um DVD especiais. Existe essa possibilidade?
Wagner - Pra ser bem sincero, não sou a favor. Não gosto dessa história de revival, a coisa soa falsa, oportunista. O Som Imaginário teve sua época, foi e é importante, mas tinha razão de ser naquele período. Não há porquê retomar. Todos nós estamos em estradas diferentes.

Toninho - Em quais trabalhos você está envolvido no momento?
Wagner - Terminei há pouco a trilha do filme Desafinados, do Walter Lima Jr, e já estou começando a preparar os próximos concertos da Orquestra Petrobrás Sinfônica. Em 2008 homenagearemos Noel Rosa e Jacob do Bandolim, com espetáculos no Rio e São Paulo.


Toninho - Por quê não vemos tão frequentemente discos novos de Wagner Tiso?
Wagner - A indústria fonográfica não é a mesma, os verdadeiros artistas não têm chance de mostrar seu trabalho, salvo em raríssimas ocasiões, no que diz respeito às grandes gravadoras, as majors. Hoje, prefiro realizar trabalhos para selos independentes, que dão total liberdade de ação aos músicos.

Toninho - Pra terminar: qual a importância de Paulo Moura na sua vida e carreira?
Wagner - Ele foi e é figura fundamental na minha vida e carreira. Um grande e querido amigo, que me deu força, insistiu para que eu escrevesse arranjos para orquestra. Muitas vezes dividia os trabalhos comigo, para me incentivar a criar. E como se não bastasse, é uma delícia trabalhar com ele, uma aula constante. Paulo Moura é um dos maiores saxofonistas e clarinetistas da história da Música!

Fotos: Márcia Foletto

Site oficial: www.wagnertiso.com.br

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Toninho Spessoto