A violonista, compositora e cantora carioca Joyce leva simultaneamente carreira bem sucedida no Brasil, Europa e Japão. Está lançando no Brasil o DVD Joyce Ao Vivo (EMI), o segundo da carreira, gravado ao vivo em São Paulo e com diversas participações especiais. Em entrevista ao ACORDES, a artista fala do novo trabalho e das vantagens de atuar no segmento independente.
Por Toninho Spessoto
Toninho Spessoto – Quando você começou a pensar no DVD, de cara surgiu a EMI?
Joyce – Não, a negociação foi feita pelo Roberto de Oliveira, diretor do DVD e dono da produtora RWR. Primeiro gravamos tudo (no Teatro Fecap, São Paulo, em meados de 2008). Depois negociamos.
TS – Você não tem mais contrato com gravadoras desde 1983, de lá pra cá negocia obra a obra. Qual a vantagem disso?
Joyce – Ser dona do meu próprio nariz. Há muito não vejo vantagem em ser contratada desta ou daquela gravadora, pelo menos no Brasil. Tenho um contrato na Inglaterra, com a FarOut, mas é por obra. Trabalho por empreitada. O modelo de gravadoras como conhecemos estava falido desde os anos 80, isso era muito claro pra mim. Já vinha tendo aborrecimentos com majors desde essa época. O sucesso era ligado diretamente ao jabá, ao que os americanos chamam de payola, só que lá dá cadeia, e aqui fica por isso mesmo.
TS – Como faz para trabalhar simultaneamente com vários mercados?
Joyce – Basta ter organização. Voltando à questão da FarOut, faço muitas coisas com eles, sempre com a opção de ter a master para negociar com o Brasil. Estou com um novo disco pronto, Samba, Jazz e Outras Bossas, que deverá sair em breve aqui. É um trabalho basicamente instrumental, meu e do meu marido, o Tutty Moreno (baterista).
TS – O novo DVD é basicamente de canções. Qual o motivo?
Joyce – Gosto de trabalhar com repertório de canções, é algo que me dá muito prazer. Queria dar um panorama da minha obra, mas sem cair na mesmice da ‘releitura de sucessos’. Então dividi a coisa assim: nos números com os músicos, apenas canções inéditas. Com os convidados, releituras. A exceção foi Clareana, que coloquei no roteiro pras pessoas cantarem junto. E foi muito bonito!
TS – Qual foi o critério usado para a escolha dos convidados?
Joyce – Afinidade. Sempre gostei de trabalhar com João Donato, Leila Pinheiro, Dori Caymmi, Roberto Menescal, Zé Renato, Francis Hime. E tive o privilégio de pela primeira vez cantar com a Mônica Salmaso, que tem uma voz deslumbrante. E cantar com as minhas filhas, Clara Moreno e Ana Martins, é sempre uma emoção.
TV – Clara e Ana. Clareana. Isso traz à memória o disco Feminina, de 1980. Como você explica o poder de catarse que esse álbum exerce nas pessoas até hoje?
Joyce – Olha, não sei explicar, mas é algo que me impressiona. É comum as pessoas virem me dizer ‘esse disco marcou demais a minha vida’. Pra você ter uma idéia, o Marcos Valle me disse no final do ano passado que Feminina o fez voltar ao Brasil, ele ouviu o disco em Los Angeles, na casa do Laudir de Oliveira (percussionista brasileiro que tocou com o grupo Chicago). Foi uma espécie de chamado de volta. É muito louco isso!
TS – Há explicação para o sucesso de Clareana?
Joyce – Acho que a simplicidade. Na verdade, a canção foi inscrita no festival MPB 80, da TV Globo, pela EMI. No dia seguinte à primeira apresentação, as rádios passaram a receber pedidos e mais pedidos pra tocar Clareana. Foi impressionante!
TS – Feminina é o seu disco mais importante?
Joyce – É, mas gosto muito também de Astronauta (de 1998, com canções do repertório de Elis Regina), Ilha Brasil (1996) e Gafieira Moderna (2002). São discos fortes, coesos, muito interessantes.
TS – Mas você tem outros trabalhos também emblemáticos como Passarinho Urbano, Joyce (o primeiro da carreira), Joyce & Nelson Ângelo...
Joyce – Passarinho Urbano (1975) foi o meu primeiro projeto feito fora do Brasil, eu excursionava pela Europa com Toquinho e Vinícius de Moraes. Foi gravado na Itália para a Fonit Cetra e produzido pelo Sérgio Bardotti. É um disco bem panfletário. No Joyce, (1968) a compositora é bem melhor que a cantora, ainda estava amadurecendo. O repertório é lindo, tem Chico Buarque, Francis Hime, Toninho Horta, Marcos Valle, Paulinho da Viola. No Joyce & Nelson Ângelo (1972) eu participo basicamente como cantora, é um disco pré-Clube da Esquina.
TS – Voltando ao DVD, será lançado no Exterior?
Joyce – A bola está com a EMI, vamos ver o que rola. Na verdade, esse trabalho comemora meus 40 anos de carreira. Queria mesmo era fazer um songbook, aprovei o projeto na Lei Rouanet (Lei de Incentivo à Cultura), mas não consegui captação, infelizmente. O DVD fazia parte do projeto. Acabamos ficando só com ele.
TS – Vai fazer turnê de lançamento?
Joyce – Francamente é mais fácil tocar na Estônia que em Belém do Pará. Certamente farei turnê pela Europa, Estados Unidos e Japão, mas por aqui está tudo indefinido por enquanto. Mas o certo é que me apresentarei nos dias 27 e 28 de fevereiro e 1º de março no Teatro Fecap, em São Paulo.
Site Oficial: www.joyce-brasil.com
Fotos: Divulgação