segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Um Papo com IVAN LINS


São 36 anos de uma carreira fonográfica pontuada por inúmeros sucessos, tanto no Brasil quanto em outros países, com 37 discos e dois DVDs gravados. IVAN LINS é hoje um dos mais conhecidos e respeitados compositores brasileiros, admirado por nomes como Quincy Jones, Barry Manilow e Diana Krall, apenas para citar alguns. Carioca de nascimento, é cidadão do mundo, título conferido pela história que fez e faz na Música.

Assumindo definitivamente o controle total dos destinos da carreira e sem qualquer vínculo com gravadora, o músico lança, com distribuição licenciada para a Indie Records, o CD e DVD Saudades de Casa, onde mostra os ensaios para a turnê que realizou no segundo semestre de 2007 pela Ásia.

Conversamos na última terça-feira, por telefone. Eu em São Paulo, ele no Rio. Em um longo e divertido papo, Ivan falou do novo trabalho, do quanto é importante para o artista ter independência, de novas tecnologias e comentou fatos ocorridos ao longo da carreira. Saboreie:


TONINHO SPESSOTO – Saudades de Casa é um trabalho totalmente independente, apenas com distribuição da Indie Records. Você acredita que conseguiria realizá-lo se estivesse sob contrato com uma gravadora?
IVAN LINS
– Nunca! Nenhuma gravadora toparia lançar um CD e DVD desses, mostrando o ensaio de um artista, por mais que ele fosse conhecido. As companhias hoje querem soluções rápidas para ganhar dinheiro, não pensam mais em Arte, apenas em lucro. Claro que têm de sobreviver, mas abandonaram de vez a qualidade. E eu não me sujeito a isso.

Toninho – Aliás, nunca se sujeitou…
Ivan
– Exatamente. Meus três primeiros discos, Ivan Lins… Agora, Deixa o Trem Seguir e Quem Sou Eu?, lançados pela Philips em 1971, 72 e 73, foram feitos em clima de cabo-de-guerra. A gravadora queria me transformar num ídolo pop e eu dizia que se tivesse de dar certo como artista, seria do meu jeito.

Toninho – No final, você se tornou um artista popular sem abrir mão da essência, mantendo a integridade…
Ivan
– Se fosse de outra forma, não seria artista. Temos que ser sempre coerentes com o que pensamos, com o que queremos, concorda?


Toninho – Mas a idéia do novo projeto surgiu recentemente ou quando você ainda tinha vínculo com gravadora?
Ivan
– Surgiu com a independência. Quando me livrei de vínculos com gravadoras e me dei conta de que poderia fazer o que bem entendesse, vieram muitas idéias, entre elas a de mostrar como rola um ensaio.

Toninho – E os convidados, como foram selecionados?
Ivan
– Os convidados entraram para dar um colorido a mais, tornar o produto ainda mais atraente do ponto de vista comercial. Claro que Chico Buarque, Leila Pinheiro ou Daniel Gonzaga não iriam para a turnê comigo, por mais que eu adorasse a idéia. Mas tê-los no DVD já foi um presentaço…

Toninho – E todos com enorme valor afetivo…
Ivan
– Ah, sem dúvida. Cantar com o Claudio Lins, meu filho, é uma emoção indescritível. E fazer Depende de Nós, canção que marcou a infância dele, é maravilhoso. Leila é uma amiga querida, de muitos anos. Adoro ouvi-la cantar minhas canções. Aliás, foi por intermédio dela que eu e Chico nos tornamos parceiros e fizemos Renata Maria. Não poderíamos cantar outra canção que não essa. Adoraria compor mais com ele… O Celso Viáfora é meu irmão, é meu parceiro mais constante nos dias de hoje. Temos uma sinergia incrível, e Emoldurada é uma das minhas canções favoritas. O Hamilton de Holanda é um dos melhores bandolinistas do mundo. Tê-lo participando do Saudades de Casa foi uma honra, ele arrasou em Ser Feliz. E o Daniel Gonzaga eu vi crescer. Filho do meu querido Gonzaguinha, esse menino tem um talento extraordinário! Debruçada foi a primeira parceria minha com o pai dele, feita nos tempos em que éramos do MAU, Movimento Artístico Universitário. Queríamos mudar o mundo através da música. Pelo menos, a música ficou… (risos)

Toninho – Quando começou a produzir o trabalho, a idéia era basear o repertório no disco Acariocando, de 2006?
Ivan
– A coisa tomou esse rumo de modo natural. Quis mostrar canções mais novas mesmo, mas sem deixar de incluir sucessos como Depois dos Temporais, Saindo de Mim, Daquilo Que Eu Sei, Depende de Nós, Formigueiro. E há uma inédita, Boa Nova, bolero que fiz com o Celso Viáfora.


Toninho – Você tem grandes pretensões comerciais com Saudades de Casa?
Ivan
– Na verdade não. É um ítem de colecionador, e pretendo ter vários daqui por diante, sou dono do meu próprio nariz, graças a Deus. Antes o artista ficava totalmente atrelado aos desígnios financeiros e comerciais das gravadoras, os contratos nos obrigavam a fazer um disco por ano, e não adiantava reclamar. Tínhamos que fazer e pronto! Mas o disco é o verdadeiro cartão de visitas do artista, o instrumento pelo qual ele pode mostrar todas as suas facetas, mostrar o que pode fazer através da criatividade. E isso não combina com amarras, com contratos leoninos.

Toninho – Estamos num tempo de mudança na indústria musical, muito se discute sobre a sobrevivência deste ou daquele formato. Como você vê essa questão tecnológica?
Ivan
- Vivemos um processo incerto, ainda não há uma definição do que virá, mas você já pode se comunicar com o planeta, pode colocar ao crivo do gosto do público o que realmente sabe fazer. A internet nos dá agilidade, nossa música chega a qualquer canto do planeta de modo instantâneo, se quisermos. Antes, fechar contratos de representação era uma operação de guerra. A internet tornou tudo muito mais rápido.

Toninho – Esse avanço todo te deixa otimista?
Ivan
- Bastante otimista, virá um caminho positivo para a música, ela tem que andar rápido, as pessoas precisam de coisas boas.

Toninho – A chamada mídia física está com os dias contados?
Ivan
– O mercado caminha para a extinção do CD enquanto mídia física. No primeiro mundo isso acontecerá antes, mas acho que no terceiro irá demorar bastante, ainda não há poder aquisitivo para as pessoas adquirirem maciçamente outras formas de armazenamento de informação musical, como os iPods, por exemplo. E tampouco há essa cultura. Mas a mudança definitiva certamente virá, mais cedo ou mais tarde, e chegará ao Brasil.

Toninho – Voltando à questão do mercado independente, uma das primeiras iniciativas bem sucedidas foi a Velas
Ivan
– Sim, o Vitor (Martins), o saudoso Paulinho (Albuquerque) e eu, quando decidimos criar a Velas, estabelecemos que seria uma companhia com rumos próprios. E conseguimos. Por lá passaram artistas como Rosa Passos, Pena Branca e Xavantinho, Zizi Possi, Beth Carvalho, tanta gente que entendeu e apostou no nosso compromisso. E a gravadora está aí, mesmo com todas as dificuldades do mercado, graças à tenacidade do Vitor.


Toninho - Por falar em Velas, está sendo reeditada Viva Noel, coleção com 3 CDs que você gravou em 1997 por ocasião dos 60 anos da morte do Poeta da Vila...
Ivan
- Acho muito bacana a Velas relançar esse material, agora que são passados 70 anos sem Noel. É um trabalho de catálogo, para ficar pra sempre. Assim como Um Novo Tempo, o disco de Natal que fiz na Abril Music.

Toninho - A passagem pela Abril Music foi produtiva?
Ivan
- Sem dúvida, fiz discos ali dos quais me orgulho muito, como Um Novo Tempo, Jobiniando, A Cor do Por-do-Sol. Sempre me dei muito bem com o Marcos Maynard, que era presidente da gravadora. Ele foi corretíssimo comigo, o trabalho fluiu numa boa.

Toninho - A quem pertencem as matrizes dos CDs que você gravou na Abril Music?
Ivan
- O material é meu, licenciei em 2005 para a EMI, quando lancei por lá o CD e DVD Cantando Histórias. Mas agora tudo está voltando pra mim. Quero reeditar os discos, estou estudando a melhor forma.

Toninho – Como está o relacionamento com o Vitor Martins hoje?
Ivan
– Muito bem, voltamos a compor juntos desde o Baiana da Gema, que a Simone fez com músicas minhas há quase quatro anos. Tivemos um período de afastamento, por conta da minha saída da Velas, que não foi muito bem compreendida por ele. Mas agora está tudo resolvido.

Toninho – Você sempre foi contundente, o que lhe valeu alguns problemas com gravadoras…
Ivan
– Pois é, como eu disse, a saída da Philips foi conturbada. Em 1974, quando diminuí o meu ritmo de parcerias com o Ronaldo Monteiro de Souza e passei a trabalhar praticamente só com o Vitor Martins e fui para a RCA, onde estreei com Modo Livre. No ano seguinte, a coisa começou a azedar, a gravadora veio com aquela história de me fazer um ídolo popular, teve diretor artístico metendo o bedelho. Aí, depois do Chama Acesa, caí fora.


Toninho – O trabalho de 1977, Somos Todos Iguais Nessa Noite, estréia na Odeon, foi algo totalmente inovador, um marco na música popular brasileira. Como nasceu aquele disco?
Ivan
– Estava numa fase difícil, minha saída da RCA foi tumultuada, Chama Acesa não vendeu nem três mil cópias. Tive que ir para a publicidade. Trabalhei em 75 e 76 na Zurana, produtora do Paulo Sérgio Valle e do Tavito. Essa experiência foi fantástica, me incentivou ainda mais a compor. Em 1977, quando fui para a Odeon, estava num dos mais férteis surtos criativos da minha vida. Aliás, estou criando sempre, mas naquela época eu tinha muita coisa entalada na garganta, assim como o Vitor. Explorei com profundidade ritmos brasileiros, experiência apreendida nos tempos de Zurana com a criação de jingles regionais. E o Vitor fez letras afiadíssimas, desafiadoras ao regime político. Somos Todos Iguais Nessa Noite é um dos trabalhos de que mais gosto, ali estão canções que marcaram e seguem sendo importantes, como Quadras de Roda, Dinorah, Dinorah, Somos Todos Iguais Nessa Noite… Minha fase na Odeon, onde fiz esse disco e também Novo Tempo, A Noite e Nos Dias de Hoje, é uma das mais ricas.

Toninho – Você sempre se interessou por artistas novos. Quem chama sua atenção hoje em dia?
Ivan
– Há cantoras maravilhosas como Roberta Sá, Fabiana Cozza e Mariana Aydar, com quem tive o privilégio de cantar Desesperar Jamais, no Cidade do Samba, projeto do Zeca Pagodinho. Tem também o Casuarina, grupo de samba do Rio que é espetacular. E o Daniel Gonzaga, que vem aí com um trabalho lindo sobre a obra do pai.


Toninho – O Folia de 3, formado pelas cantoras Marianna Leporace, Cacala Carvalho e Eliane Tassis, gravou em 2005 um CD em homenagem aos seus 60 anos, Pessoa Rara. O que achou do resultado?
Ivan
– Maravilhoso! Fiquei emocionadíssimo ao ver que gente nova se interessa pela minha obra. E a qualidade da Marianna, da Cacala e da Eliane é fenomenal, elas formam um dos melhores grupos vocais em atividade.

Toninho – E dos nomes mais conhecidos, quais os que você não deixa de ouvir?
Ivan
– É impossível deixar de ouvir Simone, Nana Caymmi, Pery Ribeiro, Leny Andrade, Elia Regina. São aulas constantes de boa música e sensibilidade.

Toninho – Vai fazer turnê de lançamento do Saudades de Casa?
Ivan
– Sim, a idéia é cair na estrada logo após o Carnaval. Estou elaborando a estrutura junto a uma empresa que trabalha em gestão de carreira. A estrutura de shows mudou muito, é imprescindível para um artista independente ter uma assessoria desse tipo. Quero correr todo o Brasil e viajar para outros países.

Toninho – Tem outros projetos engatilhados?
Ivan
– Vários! Quero fazer um disco com canções de outros autores, um trabalho de intérprete. E estou começando a preparar um com temas instrumentais inéditos mesclados a outros pouco conhecidos, todos de minha autoria. E pode pintar em breve uma maluquice que estou bolando com o compositor Rafael Altério, um disco sertanejo que sairá creditado à dupla Fioravante e Guimarães, que são nossos sobrenomes. São coisas que só a independência nos permite!

Fotos Ivan Lins: Bruno Veiga
Foto Ivan Lins & Folia de 3: Ana Paula Oliveira


Site oficial: www.ivanlins.com.br

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um Papo com FERNANDA TAKAI


A amapaense FERNANDA TAKAI é a voz do Pato Fu, banda mineira de pop/rock cultuada há pelo menos uma década. Seu registro vocal doce vem sendo empregado em repertório sempre interessante, repleto de (boas) influências de música eletrônica e pop dos anos 60. O Pato Fu recentemente voltou ao cenário independente, depois de algum tempo na multinacional BMG, hoje Sony BMG.

Fernanda estréia em carreira solo - sem deixar a banda - com o curioso e competente Onde Brilhem Os Olhos Seus, produção independente assinada pelo marido, o guitarrista John Ulhoa, com direção musical de Nelton Motta. O álbum traz inusitadas releituras para canções do repertório de Nara Leão, a musa da bossa nova. Com sabedoria, Nelson, John e Fernanda não se restringiram à bossa, entrando também nos terremos do samba de protesto e do pop, abraçados por Nara.

Conversei com Fernanda na terça, 4 de dezembro, por telefone. Eu em São Paulo, ela em Belo Horizonte. No papo, agradável e descontraído, a cantora falou do CD e do que representa estar de volta à cena independente. Os detalhes:

TONINHO SPESSOTO - O conceito de Onde Brilhem os Olhos Seus é, no mínimo, curioso. Como surgiu a idéia?
FERNANDA TAKAI - Nelson e eu não nos conhecíamos. Ele me passou um e-mail dizendo que gostava muito do som do Pato Fu e afirmando que eu era 'a Nara Leão do pop/rock'. Fiquei com esse negócio na cabeça até que em 2006 nos conhecemos e o projeto tomou corpo.

Toninho - Vocês guardaram a idéia a sete chaves...
Fernanda
- Realmente. A coisa só se tornou pública quando cantei algumas canções do CD no desfile do estilista Ronaldo Fraga, na última São Paulo Fashion Week. Aí não tinha mais como esconder...

Toninho - O repertório pega canções de várias fases e gêneros cantados por Nara. O objetivo era mostrar essa diversidade?
Fernanda
- Exatamente. Nara tinha uma diversidade impressionante, cantava bossa nova, samba de protesto, pop, e fazia tudo muito bem. Procuramos capturar esse aspecto e trabalhar numa nova linguagem. Tem de tudo, desde Diz Que Fui Por Aí, samba clássico do Zé Kéti, até Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, de Roberto e Erasmo Carlos, passando por Lindonéia, canção tropicalista de Gilberto Gil e Caetano Veloso, e por Odeon, chorinho de Ernesto Nazareth.

Toninho - O CD surpreende pela total subversão ao pré-estabelecido. Esse conceito partiu de quem?
Fernanda
- De todos nós. Não faria o menor sentido abordar a obra de Nara Leão do modo como ela o fez. Não traria nada de novo e sairia das minhas características. E não seria desafiador. Pra mim foi um grande desafio mergulhar nesse repertório e dar a ele uma nova cara.

Toninho - Vocês escolheram alguma 'faixa de trabalho' para ser mandada às rádios?
Fernanda
- Não, detesto esse conceito. Nem sempre a tal 'faixa de trabalho' reflete a idéia completa do disco. Cada um escolhe a faixa que quiser.


Toninho - Além dos arranjos muito bem trabalhados e das interpretações caprichadas, o disco tem um trabalho visual belíssimo. Como surgiu esse conceito?
Fernanda
- Em primeiro lugar, muito legal saber que você gostou (risos). A criação visual é de uma grande amiga, a Andréa Costa Gomes, que conheci na faculdade. Quando vamos escolher o visual para um disco do Pato Fu, apresentamos sugestões. Sempre apresentei a Andréa e ela nunca venceu. Então, como no meu trabalho mando eu (risos), resolvi trazê-la. Agora falando sério, ela é uma artista excepcional e criou um conceito lindo!

Toninho - Tiveram algum apoio financeiro? Lei de incentivo à cultura ou algo do gênero?
Fernanda
- Que nada, bancamos tudo do nosso bolso. E a distribuição está com a Tratore, que também cuida do Daqui Pro Futuro, trabalho mais recente do Pato Fu. A escolha dos parceiros certos é fundamental.

Toninho - Vai haver turnê de lançamento do CD?
Fernanda
- Olha, no momento, estou envolvida com os shows do Pato Fu, mas ao mesmo tempo estou começando a escolher a banda pra trabalhar comigo. Depois do Carnaval quero cair na estrada com esse projeto, conciliando as datas com as do grupo.

Toninho - Você está incluindo canções de Onde Brilhem Os Olhos Seus nos shows do Pato Fu?
Fernanda
- Não, de jeito nenhum. Não quero misturar as coisas, por mais que haja similaridade sonora. Não vou misturar estação, entende?

Toninho - Sempre que um integrante de banda lança disco solo, surgem rumores dando conta de que ele vai sair, que brigou com os outros, essas bobagens. Com vocês, tudo em ordem, confere?
Fernanda
- Confere! Não sairia do Pato Fu por nada, jamais faria parte de outra banda. Somos um time integradíssimo, sem falar no fato de que o John (Ulhoa, guitarrista) é meu marido. Essas fofocas só nos fazem dar risada...

Toninho - Como acha que os fãs do Pato Fu vão receber o seu disco solo?
Fernanda
- Acho que bem, as primeiras repercussões têm sido muito positivas. E acredito também que tenho tudo pra ganhar novos fãs. Se isso acontecer, que coisa boa! É gratificante ver que um trabalho traz mais pessoas pra perto da gente.


Toninho - Pensa em fazer DVD do seu disco?
Fernanda
- Vamos fazer até fevereiro um ou dois clipes. Quanto a DVD, deve sair alguma coisa nova do Pato Fu em 2008.

Toninho - E agora temos também uma Fernanda Takai escritora...
Fernanda
- Pois é, menino! Há algum tempo tenho uma coluna de crônicas nos jornais O Estado de Minas e Correio Braziliense. Fui convidada pela Panda Books pra reunir as melhores num livro que está saindo agora, Nunca Subestime Uma Mulherzinha. É outra experiência fascinante!

Site oficial: www.patofu.com.br (nele há link para informações sobre o CD de Fernanda Takai)

Como adquirir o CD de Fernanda Takai: www.tratore.com.br (o site ds distribuidora traz endereços de lojas que vendem o disco)

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Um Papo com WAGNER TISO


Mineiro de Três Pontas, pouco mais de 60 bem vividos anos, totalmente dedicados à Música. WAGNER TISO é um dos mais completos e importantes melodistas e arranjadores da história da Música Popular do Brasil. Eternamente associado a Milton Nascimento, faz parte do Clube da Esquina, confraria de genias criadores que revolucionou a estética melódica a partir de meados dos anos 60.

Completando quatro décadas como arranjador, tem lançada em sua homenagem a caixa de CDs Da Sanfona à Sinfônica: Wagner TIso, 40 Anos de Arranjos (Trem Mineiro/Universal), com 59 de seus melhores trabalhos nessa área em gravações de, entre outros, Elis Regina, Simone, Eugènia Melo e Castro, Fagner, Nana Caymmi, João Bosco, Luiz Gonzaga, The Manhattan Transfer, Caetano Veloso, Gonzaguinha e, claro, Milton Nascimento.

Conversei com ele na quarta-feira, 28 de novembro. Um papo agradabilíssimo, apesar de ter sido por telefone. Ele no Rio, eu em São Paulo. Reflexões, informações, certezas aqui reveladas:


TONINHO SPESSOTO - Como surgiu a idéia dessa caixa de CDs?
WAGNER TISO - Minha mulher, Giselle Goldoni Tiso, produtora cultural, armou tudo, desde a concepção à seleção de repertório, esta com Claudio Olivotto. Ela, inclusive, dividiu o material em CDs temáticos. Fiquei muito feliz com o resultado, acho que a amostragem é ampla e interessante.

Toninho - Por quê 59 arranjos ao invés de um número, digamos, redondo?
Wagner - Seriam 60, mas tivemos problemas na liberação de um fonograma de Fagner. A família do parceiro criou algumas dificuldades e acabamos optando por fechar em 59 mesmo. E olhe que tenho mais de mil arranjos gravados...

Toninho - Há gravações inéditas no repertório, não?
Wagner - Exato, são os registros com a Orquestra Petrobrás Sinfônica, que regi em espetáculos tendo Ivan Lins e João Bosco como solistas. Esse material ainda não teve distribuição comercial.

Toninho - Todos os fonogramas foram remasterizados para a caixa. Em alguns há diferenças sensíveis. Isso foi proposital?
Wagner - Sim, pois na remasterização é possível corrigir eventuais distorções, melhorar o resultado sonoro mantendo-se a integridade do material gravado. Em alguns casos, por exemplo, destacamos mais certos instrumentos que estavam praticamente escondidos. Isso deu maior brilho aos registros.

Toninho - Entre todos os seus arranjos, há um favorito?
Wagner - Aí caímos naquela velha máxima de que 'todos os filhos são iguais', mas há alguns que me agradam muito, entre eles o de Caicó (Cantigas), tema de Heitor Villa-Lobos adaptado pela cantora Teca Calazans, gravado pelo Bituca (Milton Nascimento) no álbum Sentinela, de 1980. É a primeira faixa do primeiro CD da caixa.


Toninho - Houve algum complicado do ponto de vista de construção, de criação?
Wagner - Vários, mas creio que o mais complicado foi o de Para Lennon e McCartney, de Lô e Márcio Borges e Fernando Brant, na gravação da Elis Regina do disco póstumo Luz das Estrelas, de 1984. A voz dela estava numa fita cassete gravada ao vivo em 1976. Tivemos que achar o tempo, o beat correto para manter a atmosfera da interpretação. E tivemos, claro, que captar, na medida do possível, a emoção da Elis. Foi um desafio tanto técnico quanto emocional. (faixa 3 do terceiro CD da caixa)

Toninho - Você já criou arranjos tanto para pequenos grupos quanto grandes orquestras. Qual a sua preferência?
Wagner - Olha, gosto de desafios, sejam eles quais forem. Sou eclético, não discrimino essa ou aquela possibilidade harmônica e melódica. Procuro fazer de tudo, embora tenha predileção por arranjos para grandes orquestras.

Toninho - Os trabalhos com artistas internacionais também são desafiadores?
Wagner - Sim, e como! Afinal, temos que lidar com outras culturas, outras origens musicais. São tarefas desafiadoras e, como disse, adoro desafios. Já trabalhei com Manhattan Transfer, Mercedes Sosa, Salif Keita, Wayne Shorter, Eugénia Melo e Castro, Jon Lucien... Cada um com suas peculiaridades, histórias concepções musicais.

Toninho - Falou-se, há pouco mais de dois anos, numa possível volta do Som Imaginário, grupo do qual você foi um dos fundadores e que teve na formação craques como Zé Rodrix, Tavito e Robertinho Silva, para um CD e um DVD especiais. Existe essa possibilidade?
Wagner - Pra ser bem sincero, não sou a favor. Não gosto dessa história de revival, a coisa soa falsa, oportunista. O Som Imaginário teve sua época, foi e é importante, mas tinha razão de ser naquele período. Não há porquê retomar. Todos nós estamos em estradas diferentes.

Toninho - Em quais trabalhos você está envolvido no momento?
Wagner - Terminei há pouco a trilha do filme Desafinados, do Walter Lima Jr, e já estou começando a preparar os próximos concertos da Orquestra Petrobrás Sinfônica. Em 2008 homenagearemos Noel Rosa e Jacob do Bandolim, com espetáculos no Rio e São Paulo.


Toninho - Por quê não vemos tão frequentemente discos novos de Wagner Tiso?
Wagner - A indústria fonográfica não é a mesma, os verdadeiros artistas não têm chance de mostrar seu trabalho, salvo em raríssimas ocasiões, no que diz respeito às grandes gravadoras, as majors. Hoje, prefiro realizar trabalhos para selos independentes, que dão total liberdade de ação aos músicos.

Toninho - Pra terminar: qual a importância de Paulo Moura na sua vida e carreira?
Wagner - Ele foi e é figura fundamental na minha vida e carreira. Um grande e querido amigo, que me deu força, insistiu para que eu escrevesse arranjos para orquestra. Muitas vezes dividia os trabalhos comigo, para me incentivar a criar. E como se não bastasse, é uma delícia trabalhar com ele, uma aula constante. Paulo Moura é um dos maiores saxofonistas e clarinetistas da história da Música!

Fotos: Márcia Foletto

Site oficial: www.wagnertiso.com.br

COMEÇA A CONVERSA!


Amigos,


Resolvi criar mais um blog musical. Depois do ACORDES, que segue firme e forte, nasce o PAPO DE MÚSICO.

Aqui, vocês encontrarão sempre conversas inteligentes com figuras ligadas diretamente à Música: Instrumentistas, Cantores, Compositores, Jornalistas, Escritores, Produtores, Técnicos...

Críticas e sugestões serão sempre bem vindas. Fiquem à vontade!


Beijos e Abraços!

Toninho Spessoto